Como diria o parintinense Chico da Silva, “É preciso muito amor…”, no caso, por Manaus, que, com seus mais de dois milhões habitantes, distribui, às vezes equitativamente, mazelas urbanas para todos. Mas nem sempre.
Se as reiteradas paralisações do serviço de transporte público urbano, como a da última segunda-feira, 27, ocasionou prejuízo para cerca de 20 mil trabalhadores que perderam a hora e chegaram atrasados em seus trabalhos em função do “protesto” de outros trabalhadores – os rodoviários – que optaram por atrasar o serviço em uma hora para reivindicar, dizem, direito trabalhista, outras situações prejudicam toda a cidade e até municípios da região metropolitana.
É preciso muito amor para morar em Manaus nessas condições. Isto, sem falar na violência que caminha ao lado do cidadão
O caso do transporte coletivo é situação velha, onde duas classes – empregados e patrões – aparentemente pouco estão ligando para o serviço que deveriam prestar à população, embora tanto o governo municipal quanto o estadual – este até há pouco tempo – transferem receita para as empresas concessionária sem exigir o mínimo necessário de retorno, seja em colocar os ônibus nas ruas diariamente ou melhorar as condições dos veículos, volta e meia parados nas ruas por uma prosaica pane mecânica. Desleixo, ausência de manutenção ou falta de fiscalização? Vai ver que os três fatores aí se aglutinam em desserviço à comunidade, enquanto o preço da tarifa vai às alturas.
É preciso muito amor para morar em Manaus nessas condições. Isto, sem falar na violência que caminha ao lado do cidadão, seja pelas vias, dentro dos ônibus ou até em sua própria casa, “asilo inviolável”, assegura a Constituição Federal, regra jamais conhecida por meliantes, ladrões e assassinos que a invadem, roubam, assaltam, estupram sem que pouco ou quase nada seja feito para garantir a segurança do cidadão que paga impostos.
No rol dos problemas que acometem o manauara de forma, digamos, mais democrática, tem um que vem desde quando a iluminação passou a ser elétrica. Anunciada a contratação do serviço em 1893 pelo governador Eduardo Ribeiro, o diretor de Obras Pública, Armênio Figueiredo, via que em breve acabaria o vexame da iluminação por meio do óleo de nafta.
Em 1895, o mesmo governador anunciava que a iluminação pública utilizaria arcos voltaicos e a particular usaria lâmpadas incandescentes. Ao que tudo indica, já ali havia problema com a energia elétrica em Manaus, uma vez que as incandescentes são sucessoras das lâmpadas com arco voltaico.
Mas até a chegada da energia elétrica por aqui é polêmica. Enquanto Mário Ypiranga Monteiro assegura que a cidade foi a primeira no país a ter luz voltaica, o escritor Mavignier de Castro registra que Manaus foi a segunda cidade do Brasil a ter energia elétrica.
No fim do século XIX – 1898 – a cidade não dispunha de energia elétrica em bairros como Cachoeira Grande, Cachoeirinha e Mocó. A região central fora privilegiada.
Hoje, depois dos bilhões de reais para custear um gasoduto que deveria mudar a matriz energética do Amazonas e aliviar a demanda pela energia gerada em Balbina, além de outros bilhões para conectar Manaus ao Sistema Interligado Nacional (SIN), Manaus e cidades da região metropolitana continuam a enfrentar a falta de energia, como aconteceu pelo menos três vezes na semana passada.
Prejuízos ao comércio, indústria, ao trabalhador, parecem não importar à autoridade (in)competente e muito menos aos agentes públicos incumbidos de fiscalizar o serviço. Enquanto isso, o personagem conhecido como contribuinte sofre, sofre e paga a fatura.