O fim de semana, que está sendo considerado por muitas pessoas também o fim dos dias para o Partido dos Trabalhadores (PT) e suas lideranças principais, como o ex-presidente Lula da Silva e a atual inquilina do Planalto, Dilma Rousseff, começou com a prisão, na sexta-feira, 19, de dois executivos das maiores empreiteiras do Brasil, Andrade Gutierrez e Odebrecht.
Quem duvida da seriedade dos fatos que aconteceram na sexta-feira, com a 14ª fase da operação Lava-Jato, pode fazer um paralelo com o desempenho da Bolsa de Valores de São Paulo, onde o Ibovespa, principal índice, fechou em queda de 0,90% aos 53.749 pontos. O impacto da prisão, em termos de Bolsa de Valores, foi que o papel da Brasken, controladora da Odebrecht, caiu mais de 10% no pregão de sexta-feira.
Para variar, Lula da Silva usou outra de suas metáforas ao tentar explicar a conjuntura política ao dizer que ele e Dilma Rousseff estão no volume morto
Mas o governo de Dilma Rousseff também se defrontou com a inusitada decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) de dar prazo de 30 dias para que a prestação de contas do exercício de 2014 apresente explicações sobre 13 – número absolutamente petista – ações, conhecidas como ‘pedaladas fiscais’, que maquiaram os resultados apresentados no documento.
De outro lado, enquanto um dos empreiteiros ligados à Odebrecht ameaça abrir o bico e detonar a república do PT ao dizer que, se falar vai atingir o ex-presidente e também Dilma Rousseff, o próprio Lula comentou que, agora, os próximos alvos dos investigadores da operação Lava-Jato seriam ele e a presidente.
Às más notícias que encerraram a semana da presidente Dilma Rousseff e seu governo, resta acrescentar o resultado da Pesquisa DataFolha onde o oposicionista Aécio Neves (PSBD) tem 35% da preferência do eleitorado e, caso eleição fosse agora, poderia se eleger. Enquanto o tucano comemora a posição favorável, Dilma Rousseff amarga rejeição de 65% dos entrevistados que classificam seu segundo mandato como ruim ou péssimo.
Pior do que esse índice de rejeição, dizem os analistas, só o atingido pela administração ex-presidente Collor de Mello, às vésperas de ser despejado do Planalto, que atingiu 68%.
Para variar, Lula da Silva usou outra de suas metáforas ao tentar explicar a conjuntura política ao dizer que ele e Dilma Rousseff estão no volume morto.
Se a metáfora pode ter fácil entendimento para quem convive com o noticiário sobre a seca que aflige São Paulo há algum tempo, para outros cabe esclarecer que volume morto é uma reserva técnica – de água – localizada abaixo do nível das comportas e, no caso de São Paulo, nunca havia sido usada até o estado crítico da estiagem de 2014 naquela cidade.
No caso de Lula, que em outras condições usou essa figura de linguagem para comparar o Brasil a uma churrascaria e criticar seus opositores que exigiam o cumprimento de promessas de campanha e de outros compromissos assumidos pelo então presidente, não parece que ele possa ser classificado como uma reserva técnica para solucionar a crise na qual, a cada dia, mais se envolve o novo mandato de Dilma Rousseff, cuja maior realização parece ser ter conseguido, em menos de seis meses, ter a popularidade abaixo dos níveis das comportas de Cantareira.
Até o momento em que este artigo foi escrito, o fim dos dias da república do PT, anunciado pelo patriarca dos Odebrecht, não se concretizara, mas a investigação da Lava-Jato, assim como a estiagem paulista, é longa e persistente, a indicar que com água ou petróleo, o Brasil pode estar mudando ao punir aqueles que sempre se consideraram não só acima de suspeitas, assim como da própria lei, como bem ilustra o título dado à 14ª fase da operação Lava-Jato: Erga Omnes, ou “vale para todos”.
Publicação no Jornal do Commercio e Portal do Holanda em 23/06/2015