Entre as versões que apresentadas para explicar a morte de 16 pessoas no acidente ocorrido na sexta-feira, 28, com a colisão entre um ônibus executivo e uma caçamba, está uma que, conforme a mídia informou, foi contada por gente envolvida no acidente.
Essa versão diz que o motorista da caçamba estava perseguindo uma S-10 que o teria fechado na avenida Torquato Tapajós. Conforme noticiário na imprensa, quem contou essa história teria sido o próprio motorista da S-10. Ele falou para jornalistas que o motorista da caçamba queria matá-lo.
A ser verdade tal história, o trânsito caótico que existe em Manaus só vem provar o que técnicos e especialistas em segurança alardeiam há muito tempo: eles afirmam que acidentes não acontecem.
Acidente, como sabemos, em uma primeira acepção é um fato inesperado. Em outra acepção, é um fato infeliz, um desastre, que causa danos ou ferimentos a terceiros.
Os especialistas em segurança asseguram que os acidentes não acontecem pela simples razão de que mais de 80% dos tais “acidentes” são provocados por falha humana, pelo que os experts chamam de ato inseguro, inseridas aí a imperícia, a desatenção ou, pior, em caso de acidente rodoviário, o excesso de velocidade, sem entrar no mérito da necessidade de ultrapassar o limite permitido, uma infração.
Conforme estatísticas do Detran, Manaus tinha, no fim de dezembro de 2013, uma frota superior a 580 mil veículos, com a estimativa de que entram, todo mês, pelo menos 5 mil novos carros em circulação na cidade. Com isso, até o fim deste ano, a expectativa do Detran é de que Manaus venha a ter cerca de 641 mil carros rodando.
É óbvio que não se cria, nem teria como se criar, espaços de circulação nesta proporção. Isto é, a abertura de novas vias na cidade não obedece à lógica do crescimento do número de veículos em circulação.
Entram na discussão duas teorias: A Lei de Murphy e a Teoria do Caos. Por mais que pareça, ainda não é o fim do mundo, apesar dos títulos que denominam essas diretivas para explicar o que, para nós, simples mortais e leigos, parecem ser acidentes, embora, com certeza, sejam verdadeiramente desastres.
A Lei de Murphy afirma que, se tem que dar errado, vai dar errado e na pior hora. Enquanto a Teoria do Caos se encaminha pela afirmação de que “os riscos de que fatores insignificantes se transformem em tragédia aumentam à medida que aumenta a potência das fábricas, dos veículos e das máquinas.”
Dito isso, e para um crente como o autor destas linhas, só Deus livrou que o tal acidente, que mais cheira a assassinato em massa, seguido de suicídio, não tenha atingido proporção maior. É só imaginar que na hora em que aconteceu o tal acidente, pouco depois das 19h, a principal avenida de Manaus tem um fluxo de veículos tão intenso que, dificilmente, a velocidade dos carros ultrapassa os 15 km/h. Agora, imagine, de novo, se o perseguidor da S-10 atingisse um ônibus articulado ou um bloco de veículos. Nem pensar em tal tragédia.
No entanto, resta uma lição: o manauense, além de cordial, amistoso, caloroso também é solidário: o Hemoam bateu recorde de doação de sangue.
Para finalizar fica uma pergunta: a cidade que já socorreu bandido transportando-o de helicóptero para o pronto-socorro, mas que levou mais de duas horas para remover as 14 primeiras vítimas do acidente está preparada para a tal de Copa do Mundo? Tenho que dar razão ao secretário de Cultura, Robério Braga. Duvido.
Publicação no Jornal do Commercio, ed. 01/04/2014