A metrópole na qual Manaus se transformou tem todos os problemas que as grandes cidades atraem em decorrência de seu crescimento e, por que não dizer, desenvolvimento. Se este não foi suficiente para inibir mazelas durante o processo de expansão da cidade, agora é a vez dos cerca de dois milhões de habitantes pagarem o preço, enquanto as autoridades correm – correm? – atrás das soluções necessárias que, quando forem implantadas, chegarão com algum atraso.
Afirmar que autoridades buscam soluções, no entanto, nem sempre espelha a realidade dos fatos, embora, a favor de quem está investido de algum cargo público em quaisquer dos três poderes, possa se dizer ainda existir aqueles para quem o serviço público é maneira de se realizar como pessoa e, assim, contribuir para dar soluções aos inúmeros imbróglios que complicam a vida urbana.
O outro lado da moeda é a iniciativa de uma vereadora que, se pedalou em alguma magrela pelas ruas da cidade, já esqueceu como é difícil transitar entre veículos de quatro roda
Mesmo assim, há casos nos quais a solução proposta vai na contramão das tendências modernas e até do bom senso. Se contadas de forma literária, têm situações que podem virar lendas urbanas, na melhor das hipóteses. Na pior, se transformarão em pesadelos.
Enquanto na maior parte do mundo, tanto em países ricos como pobres, existe hoje algum tipo de incentivo para as pessoas buscarem vida mais saudável por meio de atividades físicas e, entre essas, pedalar uma magrela, além de fazer bem para saúde, tem outros benefícios.
É o caso de quem pedala para chegar ao seu trabalho. Em Manaus está em expansão o número de pessoas que vão e voltam do trabalho de bike, além da legião daqueles que usam bicicletas para o lazer.
Se por um lado, a prefeitura tenta oferecer algumas alternativas em forma de espaço para ciclistas, elas são insuficientes para o tamanho da cidade, além de, em alguns casos, estar localizada fora dos eixos principais de circulação de pessoas, como a ciclovia instalada nas pistas da avenida Nathan Albuquerque, na zona Norte e quase não utilizada.
O outro lado da moeda é a iniciativa de uma vereadora que, se pedalou em alguma magrela pelas ruas da cidade, já esqueceu como é difícil transitar entre veículos de quatro rodas e atormentado pelas motocicletas que pouco ou nenhum respeito têm pelos ciclistas e pedestres.
A ideia da vereadora, com projeto e tudo em tramitação na Câmara Municipal de Manaus (CMM), é que os ciclistas sejam obrigados a fazer curso de habilitação para pedalar pela cidade. Se depender do Detran/AM, a ideia não prospera.
Outra proposta, de um vereador suplente, egresso do sindicalismo do setor de transporte coletivo. Ele quer porque quer que as magrelas passem a circular somente à noite, após as 19h30. Veja bem: 19h30, nem um minuto antes.
As contradições que a cidade e sua população têm de encarar, no entanto, não param por aí. Ainda na CMM, outra vereadora – suplente – tem proposta que nem merece esse nome, pois é um retrocesso: a parlamentar, que é religiosa, quer liberar a pregação em terminais e dentro dos ônibus. As igrejas, ao que parece, não comportam mais o número de pregadores, pois achar fiel está meio difícil.
Por fim, cabe registrar a luta do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Estado do Amazonas (CAU) para obter o direito de integrar o Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano (CMDU). O CAU deveria ter sido convidado desde sempre, no entanto, está brigando para ir onde sua competência é necessária.
As contradições da metrópole só aumentam até pela contribuição daqueles que deveriam fazer justamente o contrário: tentar reduzi-las.
Publicação no Jornal do Commercio, edição de 09/06/2016