Lá pelos anos 1960, Marshall McLuhan se debatia com conceitos do que ele chamou de “era da eletricidade” para explicar a simultaneidade da tecnologia de ponta de então, coisas como as comunicações via satélite, que possibilitavam assistir programas de TV e ouvir rádio de qualquer parte do mundo, ampliando, assim, os sentidos do ser humano, que podia fazer telefonemas de um continente para outro e derrubava, dessa forma, a barreira do tempo e do espaço, aproximando as sociedades por meio da tecnologia.
Aquelas tecnologias que tornavam possível transmitir imagens à distância, geralmente telefotos em preto e branco e de baixa resolução, assim como textos, via telex, 24 horas por dia, só estavam ao alcance de empresas com cacife financeiro para bancar os altíssimos custos.
É interessante a constatação de McLuhan, em “Os meios de comunicação como extensões do homem” de que a International Business Machines, a IBM fundada em 1911, só começou a ter visibilidade depois de perceber que não produzia máquinas e, sim, processamento de informações.
A migração dos computadores das empresas para as residências, nos anos 1980/90, foi o início, talvez, do que hoje um dos autores mais consagrados em seu campo de pesquisa, Manuel Castells, chama de ‘sociedade em rede’
O criador da expressão “aldeia global” também não deixou por menos ao criticar a forma de atuação da General Eletric, que, à época, tirava a maior parte de seus lucros da venda de lâmpadas elétricas. Nessa parte, a opinião, ou melhor, o conceito adotado por McLuhan vai muitos anos à frente quando ele diz que a “luz é informação pura” e, desse modo, a GE deveria se ver no segmento da informação móvel, como a AT&T, para citar uma gigante das comunicações daqueles anos.
Porém, o desenvolvimento das tecnologias da informação e sua consequente expansão viria a acontecer nas décadas seguintes, transformando o mundo e a convivência das pessoas, as quais, no primeiro momento, tiveram o bônus de ver seu poder de comunicação passivo aumentar com as tecnologias do rádio e da TV e, depois, quando a informatização das empresas chegou para valer, ter maiores facilidades nos relacionamentos comerciais.
O melhor (?), no entanto, já antevisto por McLuhan, ainda estava por vir, quando, nas décadas de 1960/70, foram iniciados estudos, por militares norte-americanos, para a criação da rede mundial de computadores. Embora não se tenha uma data exata para o surgimento do que viria a ser a internet atual, cria da Arpanet, e o impacto que os três Ws – world wide web – teria no mundo globalizado do fim do século 20 em diante, a tecnologia estava em gestação.
A migração dos computadores das empresas para as residências, nos anos 1980/90, foi o início, talvez, do que hoje um dos autores mais consagrados em seu campo de pesquisa, Manuel Castells, chama de “sociedade em rede”.
Não é à toa que um dos trabalhos organizados por Castells ganhou o título de “A Sociedade em Rede: do Conhecimento à Política”, onde a discussão é justamente sobre a mudança para um novo paradigma tecnológico e a ênfase está justamente sobre a dicotomia de a tecnologia moldar a sociedade, ou, ao contrário, esta ser responsável em dar forma à tecnologia, conforme as necessidades e interesses das pessoas que as utilizam.
Castells, neste aspecto, é muito claro ao dizer que é a sociedade, os usuários que moldam a tecnologia adaptando-a a seus valores e interesses. Nada mais claro quando se avalia, por exemplo, a utilização das redes sociais, hoje disseminada por smartphones, tablets, além dos computadores.
Por fim, cabe dizer que tais reflexões vieram à tona pela efeméride do último domingo, 17, quando se comemorou o Dia Internacional das Telecomunicações e da Sociedade da Informação, esta última criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2005.
No entanto, ouvi, outro dia de um frei, que a internet está colocando as pessoas loucas, ou quase. Pode ser, a vida virtual, em alguns casos, ganhou maior importância que a vida real, mas aí já é tema para outro artigo.
Publicação no Jornal do Commercio, edição de 19/05/2015